pela corrupção da falência


em florianópolis, estamos acompanhando um movimento de manutenção da falência. praticamente toda a discussão da arte realizada na cidade, as representações na imprensa, hoje, seja na literatura, nas artes visuais, no cinema ou em qualquer outro lugar, gira em torno de como fazer parte desta falência, como entrar nela, e não de como corrompê-la. formadores de opinião que participam há mais tempo da discussão em torno de cultura se interessam por esta manutenção, evidente, pois é a falência que os torna notáveis; e os mais novos aparecem neste rastro, tentando catar os restos que ficam pelo caminho, e reivindicando o lugar da falência. dificilmente as perguntas “como construir outros caminhos? cavar outros buracos?” aparecem nessas discussões. não, preferimos a falência, ficamos com ela.

pude acompanhar uma conversa em torno do filme matou o cinema e foi ao governador, realizada no museu hassis, na sexta-feira. em certo momento da conversa, as pessoas que estavam discutindo (cineastas, produtores e críticos, mais novos e mais velhos) chegaram à conclusão de que 1) se os editais em santa catarina tendem a contemplar somente os projetos que promovam a “cor local” – machado de assis diria: ainda nisso? – 2) então a única possibilidade é o desenvolvimento de projetos que promovam, dessa maneira, a “cor local”, “que falem do daqui”. esta é, no final das contas, a grande e – por que não dizer? – triste conclusão a que se chega. depois daí, a discussão não avança mais, não se consegue nunca desatar esse nó, escapar dele. ficamos, portanto, no caminho óbvio, a saber - o da manutenção da falência.

sim, acredito que a realização do filme matou o cinema e foi ao governador foi uma importante iniciativa política, “de organização e resistência”, como as pessoas têm dito – e acho que o único esquecimento de luis felipe soares, em seu texto, foi não ter mencionado isso, colocando matou o cinema... ao lado de as procuradas, por exemplo – mas não vejo os rombos e o alcance político que o filme acredita ter feito. mais que isso, não vislumbro, com o filme, qualquer avanço na discussão de como construir outro cinema no estado, ou outra literatura, teatro, enfim – talvez não seja essa a discussão mais imediata, urgente, necessária? a proposição que o filme sugere, no final das contas, não seria a mesma? queremos fazer parte da falência. queremos o nosso pedaço nisso tudo. eis a fórmula.

de fato, assim, preferiria não.

[V.R]


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