Crítica e ficção da arte II (mais hipóteses)

Hipótese 6

Arquivo versus Soberania Delirante do Eu

Talvez haja um pouco – ou mesmo bastante! – de uma “soberania delirante do eu” no modo como observo as obras de arte. Isso porque me formei para ser historiador que, supostamente, teria que lidar com arquivos, documentos, etc. No entanto, a formação acabou sendo entortada, com mais estudos de cinema, de história da arte do que qualquer coisa relacionada à historiografia. Nomes como Heródoto, Michelet, Braudel, são enormes nuvens para mim.

Elisabeth Roudinesco – dona da ótima expressão “soberania delirante do eu” que, no entanto, utiliza quase com um sentido pejorativo – diz sobre a relação entre história, arquivo e delírio: “Se tudo está arquivado, se tudo é vigiado, anotado, julgado, a história como criação não é mais possível: e é tão substituída pelo arquivo transformado em saber absoluto, espelho de si”.

A relação direta entra a escrita do historiador e uma escrita que a ele antecedeu (depositada no arquivo, nos anais) cria uma série de contingências às quais dificilmente consigo me submeter. Preciso de um campo livre (descampado) para pode respirar e criar sem qualquer tipo de amarras com o mundo real dos fatos e de suas verdades. Antes: um trânsito pelo território onde os compartimentos do arquivo estão menos fixados ou mesmo onde nada ainda está arquivado. É ali que as coisas tendem para a fantasia, para o delírio, um arquivo reinventado ou mesmo totalmente descartado.

Hipótese 7

Obra escrita

Nunca se trata de uma escrita da obra* (ou sobre a obra). Trata-se, sobretudo, de uma obra escrita.


* Escrita da obra remeteria ao procedimento historiográfico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Salve Fernando blogueiro,

Esta é a minha primeira visita ao teu blog, incentivada pela mensagem que me mandaste e que descobri ter ido parar no lixo eletrônico. Mas, não se preocupe, já despedi a secretária web-eletrônica.

Sobre a "soberania delirante do eu": me fez lembrar esta:
A cultura é a névoa entre a consciência e o ego. A cultura, conjunto de crenças compartilhadas, é o vetor coletivo da inconsciência.

Sei lá se isto tem haver... mas, aí está.
Abraço.