A importância dos temperos na alimentação européia me fez pensar o seguinte. Gerações e gerações de homens se lançaram em viagens intercontinentais em busca de temperos. Afinal, quando aprendemos na escola que a descoberta das Índias e mesmo da América se deram pelas das ditas “Grandes Navegações” que tinham por objetivo ouro e especiarias isso quer dizer, basicamente, que além das pedras preciosas, aqueles homens se lançavam ao mar em busca de temperos. Afinal, as ditas especiarias não passam de produtos de origem vegetal usados para codimentar a comida. Pimenta, cravo, noz-moscada, isso que encontramos a menos de um real nos supermercados de hoje, mas que na verdade, eram verdadeiras iguarias numa época em que o acondicionamento dos alimentos era precário e o amargor era o gosto dominante. O sal era o verdadeiro Deus. Tirassem a Igreja o mundo continuaria. Sem o sal, nada feito. As especiarias eram a garantia de um paladar mais refinado, menos embrutecido, mais civilizado.
Civilização ligada à educação dos sentidos. Isso é ponto comum nos estudos das ciências humanas, basta pensarmos em Norbert Elias ou mesmo Michel Foucault. A questão é que a estética – modo de apreender o mundo pelos sentidos – foi o motor da modernidade e das das grandes descobertas, do conhecimento de uma nova geografia, línguas, culturas, etc. O desejo de sofisticar a estética como propulsor da história moderna.