Dourado. Precioso. Luz. Quadrados.
Em pequenos pedaços quadrados de papel, todos dourados, Renata Patrão sugere a (re)construção dos arcos da Galeria. Explica-se: a sala onde está seu trabalho possuía dois arcos que serviam como portas/passagens. Para montar o espaço expositivo, fechou-se tais arcos. A intervenção, no entanto, sempre é visível. Como ferida que não cicatriza, a arquitetura da casa insiste em se mostrar. Mesmo camadas e camadas de massa corrida não conseguem fazê-la desaparecer.
Renata Patrão chegou com uma caixinha cheia de papéis de cigarro dourados. Com cola e os dedos, lançou-se justamente às marcas que faziam lembrar do arco. Começou a redesenhar com seus quadradinhos dourados a forma de arco. Não chega a completá-los: apenas sugere.
O poema dadaísta de Mabel que apresenta a exposição, diz: “Revelar o óbvio apenas pelo prazer raro dourado (...) Santa ousadia falar sobre o que não se viu”. A escrita de Mabel dá conta daquilo que é a grande poesia do trabalho de Renata Patrão.
O trabalho é pictórico e ao mesmo tempo arqueológico. Por acréscimo, Renata Patrão chega ao subtraído. Adicionando quadrados e dourados, faz lembrar o que já não há ali: um arco.