Da caretice institucionalizada - de novo

Publico o e-mail que enviei para Ana Lúcia Vilela porque esclarece alguns pontos de vista que estamos pensando. A mensagem surgiu porque eu lhe enviei em anexo as críticas de J. Monachesi e F. Cypriano, publicadas na Folha de São Paulo, llustrada, de 02/12/2006. Além disso, também enviei a entrevista que a jornalista Néri Pedroso realizou para o site Net Processo (www.netprocesso.art.br) com a curadora Cristiana Tejo.

Ana,
segue em anexo as críticas de Juliana Monachesi e do Fabio Cypriano à 27ª Bienal de SP. Apesar de a Juliana ser mais severa com a mostra, o Fabio coloca algumas coisas bem mais pertinentes (mesmo que seja para dizer que ficou satisfeito com a exposição). De qualquer forma, ele fez pensar naquele trabalho de Laura Lima – na relação explícita que tem com os Parangolés, mas que na verdade deixa o público apenas desfilar com as roupas naquele curto-espaço-de-boutique que a gente entrava (com direito a fila e tudo). A crítica é ácida de Laura Lima ou será que ela não é exatamente aquela quem transformou Oiticica naquela bobagem? Agora tem uma coisa: quando o Hélio entrava com os Parangolés, ele despertava um certo desconforto do público do museu, que não conseguia decodificar aquilo como arte (num primeiro momento). Era uma invasão – no sentido literal. O trabalho da Laura Lima, no entanto, faz exatamente o oposto: as pessoas sabem se portar diante de roupas em exposição, sabem prová-las, sabem olhar-se no espelho. Sabem e gostam, por fim, de tirar fotos com elas (mais um souvenir da Bienal, para dizer aos amigos: estive lá). É exatamente o oposto da invasão, da intervenção. Esse é o problema do trabalho (que o afasta completamente daquela história do Oiticica), porque sua obviedade é tão aparente/transparente como o próprio material de que as roupas são feitas. Outra questão é pensar o trabalho do Superflex (Guaraná Power) e do Marcelo Cidade (bloqueador de celulares) que não puderam se efetivar nos limites institucionalizados da Bienal. Mesmo que tenha virado o prato predileto da imprensa é preciso pensar seriamente isso. Aquele trabalho do vídeo com a Elke Maravilha, que vimos na Mostra Fiat Brasil, era, na verdade, para que a Elke levasse o povo para ver a Bienal. Dizem (Adriana Barreto e Bruna Mansani, que participaram da mostra me contaram) que a sra. Lisette Lagnado não permitiu. Acho essa censura pior do que as relatadas pela imprensa (Superflex e Marcelo Cidade).
Mando também em anexo, a entrevista que a Néri Pedroso fez com a Cristiana Tejo. Achei-a simplesmente brochante. Ela é a expressão mais bem acabada dessa institucionalização que estás percebendo nas artes: uma super especializada que começa a entender mais os problemas da instituição do que a querer pensar as artes para além dela. Em verdade, foi um verdadeiro asco ler aquela fala bem comportada. Os caras não conseguem mais vibrar com arte, não há mais sedução, envolvimento (apesar de reinvidicarem o corpo como campo de trabalho...). É um eterno papo sobre as relações entre artistas e instituições (esse é o perigo de tua tese, cair neste debate infernal e infindável que, mesmo que você vá criticar, acabe por afirmar, lembre-se do mestre Henrique Pereira Oliveira). Ninguém consegue bater o pé marcando o ritmo involuntariamente porque simplesmente abandonou-se a vontade de dançar. Estou cada vez mais de acordo com o Victor: é preciso bater e dizer os nomes, porque a caretice está generalizada (como já percebeu o Cássio Ferraz).


{F.C.B]

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