Uma pequena grande mostra. Com problemas na montagem, com trabalhos realmente ruins, com uma variedade democrática demais de discursos. Toda a parte de arte e tecnologia também é muito banal.
De qualquer forma, uma experiência e tanto. Ao contrário da Bienal, que faz você se perder, se atordoar, pela quantidade de trabalhos, a Fiat Brasil realizou um recorte bastante corajoso por parte do grupo de curadores: não mostrar tendências da arte contemporânea brasileira (trabalho inoportuno que críticos e curadores acreditam fazer a cada exposição, lembra-me a coisa do Prometeu), mas sim linhas de ação atuais no campo artístico múltiplo que é o Brasil.
Destaque total para Marta Neves, com “As 12 Tarefas”, vídeo em que mostra Elke Maravilha – este ser assustador e maravilhoso – buscando gente das ruas de São Paulo para ir ao museu (tomei conhecimento, posteriormente, que a idéia era levar o pessoal para visitar a Bienal, mas a sra. Lisette Lagnado recusou-se terminantemente: ótimo, é isso mesmo, vivendo e aprendendo a como viver juntos...). Ao levá-los ao museu, Elke não realiza o obtuso trabalho da maioria das ações educativas dos museus que tenta prover explicações razoáveis para os trabalhos. Ao contrário, começa a perguntar para cada um, seu signo e, a partir daí, começa a narrar (retoma a coisa da narrativa oral, maravilhosa!) o que está previsto para ele. Pois bem, aquele que a ouve falar sobre seu signo, também se expressa, trazendo suas experiências para o museu não a partir do pretexto artístico, mas sim de sua própria vida. Este vídeo deveria ser a base para qualquer trabalho digno de arte e educação que quisesse se arriscar por diferentes veredas.
Ainda: três fotografias de Fabiana Wielewicki. Eu as havia visto uma reprodução de jornal e não havia dado muita atenção. É impossível, no entanto, pensar neste trabalho sem a clareza do acabamento que ela o realizou. Trabalha com uma questão que, particularmente, tem me interessado muito ultimamente (até mesmo em função da curadoria que eu e a Ana Lúcia Vilela realizamos no Museu Hassis, a exposição “Horizontais”): a paisagem. No entanto, ela constrói uma cena em que a paisagem é interferida por uma outra paisagem, onde os prédios da paisagem real são substituídos por imagens-clichês enquadradas de paisagens ideais. Um jogo de bate e rebate em que a própria fotografia (com o corpo da artista em cena) também formula/simula uma paisagem.
Daniel Trench e Felipe Cohen também exercitam a paisagem, desta vez em vídeo, num trabalho maravilhoso, onde surge a linha do horizonte que separa o mar do... pano branco que se agita ao vento no lugar do céu.
Trabalhos excitantes: Henrique Oliveira, com seus tapumes, arrebatam qualquer narrativa. É aquilo dali e encerrar discursos ali é pura erudição.
O trabalho assinado por Vulgo (MG) me fez lembrar um Traplev (mais sofisticado e com mais dinheiro no bolso): projeto de instituição artística móvel, com direito a jardim no telhado dos carros que realizarão a itinerância.
Bruno Faria tira um sarro generalizado com um vídeo de leilão de obras de arte. Ao lado, vê-se a tela absurda que ele comprou.
Havia ainda dois vídeos particularmente interessantes que não anotei os nomes: uma mulher em um balanço que se movimenta sobre um lago; uma fumaça roxa que se esparsa em um campo.
Made in Florianópolis, vê-se ainda Raquel Stolf (com seu grilo) e Adriana Barreto com Bruna Mansani, que trabalham com uma proposta de interação entre público e artistas e trabalhos: sortearam um felizardo que viajou com elas por um dia na cidade do Brasil que ele escolhesse (o idiota escolheu o Rio de Janeiro...). Com isso, ele passou a também a assinar a obra. Em uma prateleira, fotos que contam o périplo do grupo: ali se vê toda uma narrativa.
[F.C.B]
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