Estarrecedor. Esta é a "Babel" de Cildo Meirelles. Você sai do elevador do quarto andar da Estação Pinacoteca, percebe que as salas estão escuras, olha para a esquerda e vê um amontoado vertical de rádios de todos os tipos subindo até os céus (realmente tinha que ser no 4º andar, o último da Estação Pinacoteca). Chegando perto, você vê as luzinhas piscando, as luzes dos sintonizadores, a variedade de rádios que a compõem. Mais perto ainda, você ouve diversas falas, músicas, ruídos. Todos ligados ao mesmo tempo, cada um com sua fala, incompreensível a não ser que você esteja a menos de 30 centímetros da caixa de som do rádio que você escolha ouvir. No entanto, o discurso de Meirelles é enfático: a superficialidade da linguagem talvez nunca esteve tão bem expressa em uma obra de arte.
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Saindo da sala de "Babel", você vê outra, logo a frente. Olha, procura e nada. Apenas um foco de luz redondo em uma parte do chão. No resto da sala, o vazio. Ou seja, você sai daquela polifonia de "Babel", daquela excitação que também é visual e se depara com um pequeno cubo de madeira iluminado apenas por um foco de luz redondo preenchendo toda aquela sala. É bom deitar-se, como criança, para ver de perto aquele cubinho milimétrico, com diferentes tons (diferentes madeiras dentro do mesmo espaço milimétrico?) que torna o menos, o mais – que faz do pouco, o muito.
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Mais a frente, na outra sala, via-se um deck de madeira. Você chegava próximo e percebia que era um trapiche. Ao invés de mar, folhas impressas que se passavam por água. Novamente a experiência da imensidão, da impossibilidade – que estava em “Babel” (como abarcar tudo isso?) e também no cubo de madeira, chamado “Cruzeiro do Sul” (o que fazer com tão pouco?) – dessa vez física. Experimentar o trabalho “Marulho”, significa olhar a sala, suas paredes brancas (impossibilitando qualquer formação de uma paisagem), lá para longe e querer ir até lá e não poder chegar. Fique no trapiche, na superfície, na forma cúbica.
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Sou particularmente crítico com curadorias, mas gostei muito desta, assinada por Moacir dos Anjos. Talvez fosse dispensável as escritas propositivas de Cildo Meireles que se encontrava entre a sala de “Cruzeiro do Sul” e de “Marulho”. De qualquer forma, muito interessante a montagem e seleção dos trabalhos. O curador potencializou os trabalhos e não apenas fez amarrações temáticas.
[F.C.B]
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