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nesta semana, assisti duas oficinas oferecidas pelo museu victor meirelles, de florianópolis. a primeira, sobre o sistema de artes, com cristiana tejo, de recife, aconteceu na segunda e terça-feira. após o feriado, foi a vez da artista e crítica carla zaccagnini falar sobre crítica de artes, na quinta e sexta.

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cristiana, no primeiro dia, fez uma abordagem mais histórica da arte no século 20, procurando mostrar a relação do artista com a política, os museus e a história. dentro desses problema, falou de duchamp como um estrategista – o que faria dele, também, um contemporâneo; falou das vanguardas, e dos primeiros questionamentos da relação entre obra e mercado.

no segundo dia, partindo de bauman, cristiana introduziu a maneira como o sujeito de hoje lida com o espaço e tempo, dizendo um pouco das diluições de algumas fronteiras, a criação de outras, relação centro / periferia, etc. cristiana discutiu questões mais contemporâneas, falando da condição do artista hoje – exposto a uma “identidade móvel”, a uma relação mais “cosmopolita” e estrangeira com o outro. parecia interessada em enfatizar a relação do artista com seu momento histórico, e de como seu trabalho é construído e afetado também na relação com a história e sobretudo com as instituições, que parece um problema central na discussão de artes visuais.

no final, disse também de sua relação com a cidade e os artistas de recife, na condição de coordenadora e curadora de artes plásticas da fundação joaquim nabuco – e de como a cidade foi se tornando mais aberta à arte contemporânea somente a partir de meados da década de 90, por conta de um interesse surgidos nos artistas de dentro em construir outras soluções para a arte na cidade.

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na oficina de carla, a ênfase foi na prática da crítica. num primeiro momento, carla construiu uma conversa em torno de alguns exercícios de descrição de obra, procurando discutir a maneira singular de cada pessoa olhar para um objeto - questão que também atravessa seu trabalho de artista. num segundo momento, carla sugeriu algumas discussões em torno do exercício da crítica, partindo de seus textos e dos textos das pessoas que estavam fazendo a oficina.

carla sugere uma crítica que “construa um discurso paralelo ao trabalho do artista”. por vezes, em seus textos, carla nem cita o nome do artista e de seu trabalho, propondo uma intervenção textual mais aberta e menos valorativa. se sua proposta parece sedutora no sentido de fugir do discurso de valoração, ao mesmo tempo tendo a desconfiar da proposta textual enquanto dispositivo analítico, já que carla abre mão da própria materialidade do trabalho enquanto objeto de análise. carla, ao mesmo tempo, sugere uma discussão do que seja crítica, hoje: um discurso que legitime o artista? um discurso que dê conta do trabalho? parece, também, questionar se ainda faz sentido um texto que discuta valor. enfim, seus textos parecem querer ficar num limite entre crítica e ficção, até porque carla escreve muito bem. e nisso, penso, há perdas e ganhos.

[V.R]

2 comentários:

Lengo D'Noronha disse...

Caro Victor, em relação à oficina de Carla, é indiscutível que a crítica, hoje, não pode ser mais aquela do professor de história da arte.
Mas vejo críticos atropelando a obra e o artista de uma maneira que o "objeto" passa a ser um trampolim para o crítico esquiar sem a responsabilidade da criação original.

Fernando C. Boppré disse...

concordo, sim, noronha. de fato, este é um problema que me interessa muito. penso que cada um pode escrever da maneira como quiser, mas não acredito em textos analíticos que dispensam a materialidade, a matéria, que é onde tudo acontece. meu interesse com "artes visuais" é esse, a matéria, analisar como ela se constrói, de que maneira relaciona seus elementos, pois é ali onde existe a tensão. quando escrevo, sobre qualquer coisa, não abro mão de um procedimento analítico que leve a materialidade em consideração. abraço, victor.