"(...) uma das propostas mais radicais foi a de Cássio Ferraz. Utilizar o termo “exposição”, no entanto, é bastante estranho ao se falar de “Queimando a Cuca”. Na garagem aberta de um antigo morador do Rio Tavares, seu Ageni, Cássio convidou a comunidade local para saborear de uma cuca gigante, preparada dentro do “Dispositivo relacional para ações em conjunto”, objeto de Ricardo Basbaum. As crianças brincavam, os homens assavam a carne, as mulheres preparavam a receita. Em certos momentos, estas funções tradicionais se cambiavam. Eu próprio tive que aprender a fazer bolo para ajudar as mulheres. As crianças também ajudaram a preparar a massa. Num determinado momento, quando a “fôrma” ia para o forno (especialmente ampliado para recebê-la), uma menina chegou perto de mim e perguntou-me: “Onde é que ele arranjou uma fôrma de bolo desse tamanho?” Ao fazer esta pergunta ela inverteu toda a lógica, sua dúvida partiu não de um questionamento estético sobre o objeto artístico, mas sim do cotidiano, da curiosidade e da vontade de comer uma cuca."
(Este é um fragmento do texto integral intitulado “Pensando na Contramão”, publicado no Caderno Idéias, do jornal A Notícia, em 30 de junho de 2006 e também no site NET PROCESSO, www.netprocesso.art.br)