fragmentos modificados de e-mails que enviei para amigos:


fui para são paulo, final de semana, para ver bienal e contornos. (e, para dizer a verdade, gostei mais dos contornos, rs). de última hora, entrei numa dessas excursões, ônibus que chega sábado de manhã e volta domingo à noite, rs, mas valeu a pena.

a bienal, de maneira geral, parece uma feira de domingo - já que nunca tinha ido, levei um susto com isso. e o tema, além de pedir legitimidade à crítica internacional, parece servir mesmo para indicar que o evento faz viver junto trabalhos fortes e medíocres. como partiu para um viés fortemente político - e num sentido político muito pouco barthesiano, a meu ver - a maioria dos trabalhos soa literalizado demais, com objetivo claro de intervenção e denúncia. e confesso que desconfio um pouco de tudo isso enquanto saída.

por outro lado, além da bela panorâmica do mam, na oca, vi o trabalho de cildo meirelles, regina silveira, e león ferrari, na pinacoteca - esse último, certamente, o que mais me impressionou, até porque ainda não conhecia. león é um argentino de buenos aires, tem perto de 90 anos e está produzindo como se tivesse 30. ele possui, parece, dois eixos de trabalho - um, bastante político, polêmico, provocou grande discussões com a igreja na argentina, pois possui ataques diretos ao cristianismo; e outro, mais formalista, onde trabalha com uma série de desenhos no espaço, feitos de arame, e outra série de escrituras em quadro.

essa última série, principalmente, me assombrou. acho que o trabalho de león - este, principalmente - é uma possibilidade interessante de tensionamento da literatura a partir das artes visuais - algo como uma destruição da escritura pela visualidade, apagamento e esvaziamento de qualquer subjetividade (de maneira semelhante, poderia pensar que herzog destrói o limite). é algo como um cy twombly mais radical, parece.

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voltei de são paulo ontem, com novidades, e muito entusiasmado com muitas coisas, principalmente com o trabalho de león ferrari, um artista argentino que tem uma série de quadros chamada escrituras, e com a exposição de cildo na pinacoteca.

o trabalho de cildo, meu deus, dá vontade de chorar. a montagem, feita por moacir dos anjos, coloca o pequeno cubo de cildo entre a poesia-instalação de marulho e o caos-instalação de babel, último trabalho de cildo, provocando uma encenação e dramatização-limite do espaço.

e o trabalho de ferrari, você conhece? seu trabalho com escritura em quadros vem ao encontro de muitas coisas que eu vinha pensando a partir de barthes e foucault, como a demolição do sentido, do sujeito, da escrita, mas nada do que eu havia visto até então me permitia pensar com tanta precisão: é isso! e oferecia uma solução tão bem acabada ao problema. quando vi o quadro de ferrari, na minha frente, parece que vi concretizado tudo que eu vinha anotando no papel faz meses. acho que ferrari é um twombly mais radicalizado, mais tensionado, pois apaga na escrita qualquer possibilidade de sentido, faz a língua desaparecer. (...) como vi seu trabalho logo que cheguei a são paulo, fiquei o restante da viagem assombrado com aquilo.

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a exposição da fiat decepcionou. salvo alguns trabalhos, está uma exposição confusa. para começo, da maneira como vejo, existem equívocos graves de montagem. um dos vídeos, que parecia bom trabalho, mas pedia silêncio, foi traído pelo montador, que o deixou exatamente ao lado de outro absolutamente barulhento. e na etiqueta de cada trabalho, um texto explicativo que não se sabe de onde vem - num dos textos, o de tapume, dizia que o trabalho se fazia no espaço, mas era algo que praticamente não saia da parede.

em relação aos trabalhos, muitos são intervenções na cidade e aparecem somente enquanto registros, como um depois sem força mais alguma - e cabe perguntar se alguma vez tiveram; muita web art deslumbrada, vazia, sem qualquer coisa dentro, que só de ver já dá um cansaço - teve uma que a monitora me explicou duas vezes o que tinha pra fazer e continuei sem entender (e isso que sou alguém da geração do computador); e, ainda, principalmente, trabalhos que se fazem a partir de uma sacada que se acaba e esgota no primeiro olhar.

e parece que teve docinho e sorteio de viagem na abertura - a mim, que cheguei depois, só papel e fotos.

[V.R]

Um comentário:

Anônimo disse...

vou discordar de mim - cy twombly é tão quanto.